Não era algo que eu esperava O que foi bom e tão feliz Não é de ouro, nem reluz E não tem nada que seduz E mesmo assim eu me encantava E mesmo assim eu viajei Naquilo que se fez
Não foi o canto da sereia Nem foi um raio de luar Não foi mandinga que pegou Nem foi um sonho que passou Não sei dizer o que me fez cantar Não sei, não sei Me fez cantar Não sei o quê
O que está além da lua Que não se pode ver Mas que se sente O que se pode crer Mas não se entende O amor passou na minha rua
O amor Tem gosto em flor de colibri Tem a cor na pele de jasmim Tem cheiro de hortelã Na brisa da manhã Tem forma em rio De água corrente Em vôo livre de planador
O amor Um fogo intenso a não ter fim Não apaga nem se esconde Tudo abraça Nada o corrompe É de todos mas de um só Nunca será
Que se busca Que se basta Que se medra Em mão de semeador
Que não mede Que não gasta Que não tem valor
O amor sublime dor selada em mim Lua vaga minguante Mina e fonte Meta distante Luz farol que acende a trilha ao pescador
Que se busca Que se basta Que se esmera em mão de escultor
As palavras me atravessam Feito um barco nesse rio Na imagem de uma tarde Ou na margem do vazio A canoa move lenta Ao vento de um assovio Vai na direção do nada Pela solidão de um fio Eu caminho pelo mundo Bem no fundo Bem ao centro Tudo roda nesse rio Tudo e nada ao mesmo tempo Eu caminho pelo mundo Feito o homem da canoa Se ela vira e ele nada Se ele nada e ela voa Eu caminho pelas pedras Feito o homem pelas águas Ele morre o dia parte Eu não sigo e fico às trevas Bebo o vinho do meu pranto Sugo a essência do momento Tudo roda nesse rio Tudo e nada ao mesmo tempo